terça-feira, 26 de maio de 2015

Minha visão sobre o hCG

Semanalmente recebo do consultório pacientes que fizeram a tal Dieta HCG, tão na moda e tão sem evidências científicas.


Afinal, o que é o HCG?
HCG (gonadotrofina coriônica humana = human chorionic gonadotropin) é um hormônio (glicoproteína)  produzida pelas células trofoblásticas sinciciais (placenta).  É o único hormônio exclusivo da gravidez, fazendo com que o teste de gravidez pela análise de HCG tenha acerto de quase 100%. É o único exame que comprova exatamente a gravidez.


O que ele faz no corpo da mulher?
A função da HCG é manter o corpo lúteo no ovário durante o primeiro trimestre da gestação. Garante a manutenção da gestação, inibindo a menstruação, e a ausência de uma nova ovulação. Alguns tipos de câncer, como coriocarcinoma, produzem HCG. No homem, altos níveis de HCG podem indicar câncer de testículo. Já no cérebro, o HCG sinaliza ao hipotálamo para mobilizar reservas de gordura, alterando a homeostase energética (portanto altera o metabolismo)


No que consiste a dieta?
A dieta do HCG combina injeções diárias do hormônio com uma dieta de 500Kcal. Os defensores alegam que a perda de "gordura" é de 450gramas a 1,3kg  por dia. Normalmente, a dieta de HCG dura 3 semanas. Nos 2 primeiros dias da injeção você pode comer excessivamente. Após a 3ª injeção, você deve aderir à dieta de 600Kcal por até 72 h após a última injeção. Açúcares, frutas com alto índice glicêmico, alimentos processados e amidos não são permitidos.


A evidência científica: Não há evidências científicas que sustentem as injeções de HCG como estratégia de emagrecimento. Além disso, estas injeções não são aprovadas pela FDA para o uso na perda de peso. Desde 1975, a FDA exigiu que todo o marketing e publicidade de HCG declarem o seguinte: “HCG não demonstrou ser uma terapia coadjuvante eficaz no tratamento da obesidade”. (ANVISA) Então, antes de aderir, verifique se os riscos dessa moda de "nutrolomagia", valem a pena!


Abaixo, algumas palavras de um tio e amigo sobre o tratamento com gonadotrofina coriônica (HCG) para emagrecimento. O mesmo chama-se Flávio Moutinho, é médico, endocrinologista, endocrinopediatra, professor de endocrinologia, endocrinopediatria e fisiologia endócrina na UERJ. A visão dele é semelhante a minha.

Frequentemente recebo pacientes querendo que eu prescreva a tal dieta do HCG, porque a amiga perdeu tanto kilos... Felizmente nego e explico: a pessoa pode até perder X kilos, mas qual a repercussão no futuro do uso desse hormônio? Isso no caso de mulheres.


E em homens, qual a repercussão futura ao se dar um hormônio que somente em situações patológicas se eleva? Sim, porque nós homens possuímos HCG em níveis fisiológicos. Se daqui 5 anos esses mesmos pacientes chegarem com boas notícias, afirmando categoricamente que "fulano" não teve repercussões negativas ou ganhou peso, quem sabe posso até pensar em estudar um pouco mais sobre o HCG para fins de emagrecimento.

Alguns pacientes apresentam emagrecimento mas é puramente devido a dieta de 600Kcal. Além disso a terapia não é inócua, além do risco nutricional pela dieta hipocalórica, há o risco de trombose em pacientes que fazem uso do HCG.


Emagrecimento é um processo complexo e que envolve muita vezes 2 ou mais profissionais da saúde. Obesidade é uma doença multifatorial e portanto o tratamento muitas vezes não se resume apenas em "fechar a boca" como alguns dizem. Consulte um nutrólogo.


A tal dieta do HCG surgiu por volta da década de 50 quando um endocrinologista britânico, Dr. Simeon percebeu que ao injetar o hormônio em pacientes que seguiam uma dieta hipocalórica, a perda de peso era acelerada. Mas, com a falta de estudos científicos que comprovassem a relação do HCG com a perda de peso, o método caiu em desuso.  Nesse meio tempo (5 décadas) a maioria dos estudos feitos para provar sua eficácia falharam. Acredita-se que a perda de peso seja principalmente à dieta altamente restritiva.


Em 1983, Birmingham & Smith publicaram uma revisão entitulada "HCG não tem nenhum valor no controle da obesidade", cujo último parágrafo diz: "Como a 'terapia' com HCG para tratamento da obesidade tem sido extensivamente desacreditada e consequentemente rejeitada pela vasta maioria da comunidade médica, qualquer profissional cujos pacientes experimentem efeitos colaterais indesejados como consequência dessa terapia deve ser responsabilizado civil e até mesmo criminalmente".


Já na década de 90 um grupo de cientistas holandeses fizeram uma metanálise (uma metanálise é o método estatístico aplicado à revisão sistemática que integra os resultados de dois ou mais estudos primários)  que concluíram que o uso do HCG é uma "terapia inapropriada para perda de peso"

Em 2007, com o lançamento do livro HCG weight loss cure guide — a supplemental guide to Dr. Simeon’s HCG protocol, o assunto voltou à tona. E nos últimos 3 anos viu-se o método virar mania no consultório dos denominados "moduladores hormonais".


Ano passado (2013) Goodbar et al. fizeram um relato de caso sobre uma paciente que iniciou a dieta HCG e duas semanas após apresentou um quadro de trombose venosa profunda com posterior tromboembolismo pulmonar. No artigo alertam que "como a popularidade da dieta HCG continua a aumentar, também aumentam os eventos adversos potenciais associados com a indução da perda de peso por meio de uma estratégia sem comprovações"


Resumindo, com base em evidências científicas nos últimos 50 anos a Dieta HCG é considerada fraudulenta e ilegal em diversos países. No Brasil existe até resolução do Conselho Federal de Medicina vetando o uso de HCG com finalidade de emagrecimento.





Autor: Dr. Frederico Lobo  - CRM-GO 13192

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