terça-feira, 26 de maio de 2015

Alerta ao cidadão brasileiro

Aproveito esse meu blog para alertar a  população sobre um tema que está in voga. Muitos pacientes, amigos, familiares  perguntam minha visão sobre o tema: Antiaging, modulação hormonal. 
Sempre deixo claro: Discordo e condeno veemente. Por que? Discordo até mesmo dos endocrinologistas que prescrevem hormônio sem antes investigar a causa base. Na minha formação acadêmica aprendi que para qualquer alteração, existe uma explicação. Nenhum hormônio sobe ou desce de forma inexplicável. Exceto pela idade, na qual fisiologicamente há um declínio NORMAL.
Por exemplo, se a pessoa apresentam alteração laboratorial num hormônio (ex. TSH que é o que estimula a Tireóide a produzir os hormônios T3 e T4), antes devo REPETIR essa dosagem pra confirmar (já que dosagem hormonal é algo difícil de se confiar, mesmo em laboratórios excelentes). POSTERIORMENTE se confirmada a alteração, tentar dentro do quadro clínico descobrir o que pode estar INTERFERINDO na cinética adequada daquele eixo hormonal. Aí entra uma anamnese minuciosa, verificando principalmente os hábitos de vida e alimentares do paciente.
Exemplo comum: homens com sobrepeso ou obeso com baixa de testosterona. Confirmada duas vezes essa baixa de testosterona, qual a conduta adequada? Repor testosterona? NÃO !
Quando há um aumento da insulina associado a obesidade, os níveis de testosterona caem, isso é fisiologia endócrina. Se o paciente obeso receber testosterona, a chance dessa testosterona ser convertida em estrogênio (hormônio feminino) no tecido adiposo (aromatizar) é alta.
Um outro exemplo clássico, que há 4 anos presencio no consultório. Pacientes com TSH acima de 5 ou 6. Muitos endocrinologistas e os chamados moduladores hormonais (geralmente tratam quando acima de 2,0), preferem iniciar com doses baixas de T4 (um dos hormônios tireoideano). Eu particularmente não faço isso. Primeiro tento descobrir o porquê desse TSH estar elevado, já que INÚMERAS condições podem elevá-lo:
  • Privação de sono, se o paciente foi dormir tarde, se o paciente é obeso, se faz uso de medicações que alteram o TSH como por exemplo um anti-hipertensivo da classe dos betabloqueadores (Propranolol), contraceptivos orais, drogas anti-arrítmicas como a Amiodarona. Outras fazem o TSH cair e uma elevação dos níveis de T4, como por exemplo a Metformina, um hipoglicemiante.
  • Deficiências nutricionais de nutrientes essenciais pra cinética correta dos hormônios tireoideanos. Por exemplo, sem Selênio não ocorre a conversão do hormônio T4 em T3 (que é a forma ativa), assim como a falta de Zinco e Vitamina D. E essas deficiências nutricionais são MUITO COMUNS na maioria da população. Ano passado dosei o Selênio sérico em 246 pacientes e somente 3 apresentavam níveis adequados de Selênio. Vitamina D, dosei em mais de 300 pacientes e somente 2 apresentavam níveis adequados. 

Quantas vezes fiz suplementações básicas de Selênio, Vitamina D e Zinco eum TSH limítrofe ou um pouco acima do normal, normalizou? Mais de 500. Diariamente faço isso e com bons resultados. 
Ou seja, primeiramente é DEVER do médico investigar a causa da alteração, tentar mudar o estilo de vida, adequar a alimentação (o que ja dá resultados excelentes, pois os alimentos conseguem modular os hormônios), suplementar substâncias naturais (vitaminas, minerais, aminoácidos) e verificar se há uma resolução do quadro. SE não resolver, aí sim, postular a reposição hormonal. Mas quem faz isso é o endócrino e não o ortomolecular ou nutrólogo. Nenhum hormônio faz parte do arsenal da ortomolecular ou da nutrologia.
Pelo que vejo, a reposição hormonal foi banalizada e diariamente pego pacientes vítimas de iatrogenia médica. No último final de semana ocorreu uma Jornada de Anti-envelhecimento no CRM de Goiás e lá os conselheiros e especialistas deixaram claro, que a maioria das condutas dos chamados "Moduladores hormonais" não possuem embasamento científico AINDA. E o profissional que for pego prescrevendo hormônio sem a devida comprovação laboratorial da deficiência do mesmo, será punido pelo CRM, com até cassação do registro. Estimulou os médicos a incitarem os pacientes vítimas de tais iatrogenias a levarem suas receitas no CRM. O médico endocrinologistas ou outros especialistas não podem fazer praticamente nada diante da situação, apenas orientar o paciente.
Em Outubro de 2012 o Conselho Federal de Medicina, lançou a Resolução Nº 1999 DE 27/09/2012 (Federal) na qual resolve:
Art. 1º. A reposição de deficiências de hormônios e de outros elementos essenciais se fará somente em caso de deficiência específica comprovada, de acordo com a existência de nexo causal entre a deficiência e o quadro clínico, ou de deficiências diagnosticadas cuja reposição mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados.
 Art. 2º. São vedados no exercício da Medicina, por serem destituídos de comprovação científica suficiente quanto ao benefício para o ser humano sadio ou doente, o uso e divulgação dos seguintes procedimentos e respectivas indicações da chamada medicina antienvelhecimento:
I - Utilização do ácido etilenodiaminatetraacetico (EDTA), procaína, vitaminas e antioxidantes referidos como terapia antienvelhecimento, anticâncer, antiarteriosclerose ou voltadas para o tratamento de doenças crônico- degenerativas;
II - Quaisquer terapias antienvelhecimento, anticâncer, antiarteriosclerose ou voltadas para doenças crônico-degenerativas, exceto nas situações de deficiências diagnosticadas cuja reposição mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados;
III - Utilização de hormônios, em qualquer formulação, inclusive o hormônio de crescimento, exceto nas situações de deficiências diagnosticadas cuja reposição mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados;
IV - Tratamentos baseados na reposição, suplementação ou modulação hormonal com os objetivos de prevenir, retardar, modular e/ou reverter o processo de envelhecimento, prevenir a perda funcional da velhice, prevenir doenças crônicas e promover o envelhecimento saudável;
V - A prescrição de hormônios conhecidos como "bioidênticos" para o tratamento antienvelhecimento, com vistas a prevenir, retardar e/ou modular processo de envelhecimento, prevenir a perda funcional da velhice, prevenir doenças crônicas e promover o envelhecimento saudável;
VI - Os testes de saliva para dehidroepiandrosterona (DHEA), estrogênio, melatonina, progesterona, testosterona ou cortisol utilizados com a finalidade de triagem, diagnóstico ou acompanhamento da menopausa ou a doenças relacionadas ao envelhecimento, por não apresentar evidências científicas para a utilização na prática clínica diária.
 Art. 3º. Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.
 ROBERTO LUIZ DAVILA
Presidente do Conselho
Legislação completa: http://www.legisweb.com.br/legislacao/?legislacao=246190
Abaixo, alguns dos riscos da prática de modulação hormonal feita por não-endocrinologistas
Os riscos das terapias antienvelhecimento
Para as manchas na pele existe maquiagem. Para os cabelos brancos, tintura. Para as rugas, cremes. Mas mesmo todo esse avanço da indústria cosmética é incapaz de reverter ou impedir o envelhecimento. "Envelhecer é um processo natural do corpo e até hoje não existe nenhum tratamento ou substância capaz de mudar esse fato", afirma o geriatra Salo Buksman, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Mas a obsessão pela juventude começou a popularizar as chamadas terapias hormonais antienvelhecimento, condenadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). "Elas pregam que a diminuição dos níveis hormonais no corpo, que começa por volta dos 30 anos, seja a responsável pelo  envelhecimento, enquanto que na literatura médica temos que o envelhecimento é o responsável pela diminuição dos hormônios", afirma o especialista.
Assim, sem qualquer embasamento, são receitados hormônios que vão desde a testosterona até a gonadotrofina coriônica humana, produzida durante a gestação. Conheça os perigos a que os adeptos desse tratamento estão expostos:
Câncer: Alguns cânceres, como o de próstata e o de mama, são considerados hormônio-sensíveis, ou seja, podem ter seu desenvolvimento estimulado pelos níveis hormonais no organismo. Neste caso, pela testosterona e pelo estrógeno, respectivamente. "Ainda não se sabe se eles são capazes de gerar um tumor, mas, certamente, contribuem para que lesões pré-existentes se desenvolvam", afirma o endocrinologista Amélio Godói Matos, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Sabe-se ainda que pessoas com níveis de elevados do hormônio do crescimento (GH) também apresentam um risco maior de ter câncer de intestino.
Problemas cardiovasculares:  Alguns hormônios, como a testosterona e o hormônio do crescimento (GH), são bastante populares em academias por levarem ao ganho de massa muscular. O problema é que eles também aumentam o risco de problemas cardiovasculares. "Tanto a testosterona quanto o GH em excesso levam ao aumento de todo o tecido muscular do organismo, inclusive do coração, causando hipertrofia cardíaca", afirma a endocrinologista Claudia Chang, doutoranda em Endocrinologia e Metabologia pela USP. Há ainda a procaína, anestésico que promete emagrecer, mas, na verdade, leva ao aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos.
AVC: O uso de testosterona a longo prazo também está associado a um risco cinco vezes maior de AVC. "Ela aumenta o número de células vermelhas no sangue, que são responsáveis pela coagulação, o que torna o plasma mais viscoso", diz o endocrinologista Amélio. O problema é que a alta dosagem  pode resultar na hipercoagulação sanguínea, podendo entupir um vaso e levar a um derrame. O caso é ainda mais grave quando o paciente sofre de apneia do sono. Isso porque a má oxigenação sanguínea, decorrente dos períodos em que a respiração é interrompida, provoca uma produção maior de células vermelhas que fazem o transporte do oxigênio para os diversos tecidos do corpo.
Atrofia dos testículos: Há muito tempo, especialistas tentam desenvolver uma pílula masculina capaz de inibir a produção de espermatozoides pelos testículos. "Um hormônio que tem esse efeito é a testosterona, mas ela também leva à atrofia dos testículos", afirma o especialista Amélio. Por isso, o projeto nunca foi para frente. Assim, receitar altas dosagens de testosterona apresenta mais esse efeito colateral. "Ela cumpre o papel de inibir as células germinativas, que compõem 80% dos testículos, mas faz com que seu volume diminua".
Ganho de peso: As terapias hormonais também costumam receitar a cortisona, medicamento à base do hormônio cortisol altamente perigoso quando usado fora de suas indicações. "Um dos efeitos colaterais da cortisona é o aumento da proliferação de células adiposas, especialmente na região central do corpo", afirma o endocrinologista Amélio. O uso prolongado pode resultar ainda na síndrome de Cushing, em que o depósito de gordura se dá no tronco, no pescoço e no rosto, enquanto que braços e pernas perdem a musculatura e ficam mais finos. A consequência disso é a fraqueza do paciente, principalmente ao caminhar ou subir escadas.
Problemas hepáticos: Como o fígado é responsável pela metabolização de todos os medicamentos, ele pode ser sobrecarregado com a ingestão de altas doses de hormônios ou remédios. "A aplicação injetável tem ação direta, então, o perigo maior é em relação àqueles com indicação de consumo via oral, como um tipo de testosterona usada no passado", afirma a endocrinologista Claudia. Isso acontece porque as enzimas do órgão nem sempre dão conta de todos os hormônios consumidos, gerando nódulos que podem evoluir para um câncer.
Apnéia do sono: De acordo com a endocrinologista Claudia, o uso do hormônio do crescimento (GH) em excesso pode levar ao inchaço dos órgãos. Entre eles, a língua, problema conhecido como macroglossia. "Isso pode não só originar um quadro de apneia do sono, já que a passagem do ar fica bloqueada, como ainda pode piorar um caso pré-existente da doença". Esse agravamento também pode acontecer com altas dosagens de testosterona. E, como vários estudos já mostraram, a apneia do sono é fator de risco para diversas doenças do coração, uma vez que interrompe, ainda que por alguns  segundos, a oxigenação do sangue.
Virilização: Crescimento de pelos no rosto, queda de cabelos, acne e retenção de líquidos são apenas alguns dos efeitos colaterais do uso de testosterona sem indicação adequada para mulheres. "O hormônio causa ainda alterações comportamentais, deixando a paciente mais agressiva", afirma o endocrinologista Amélio. O uso também pode levar ao engrossamento da voz e ao crescimento do pomo de adão.
Diabetes: "Como alguns hormônios levam ao ganho de peso, principalmente na região abdominal, há um risco maior do desenvolvimento do diabetes", afirma a endocrinologista Claudia. Embora a gordura seja fundamental para o bom funcionamento do organismo, ela deve ocupar uma porcentagem pequena do peso corporal e deve estar distribuída de forma homogênea pelo corpo. A gordura acumulada na circunferência abdominal aumenta a produção de substâncias que favorecem o aumento da taxa de glicose, diferente do que ocorre com a gordura acumulada embaixo da pele ou espalhada pelo corpo  esta ajuda a controlar as taxas de açúcar no sangue.
Fonte: http://www.minhavida.com.br/saude/galerias/15468-conheca-os-riscos-das-terapias-hormonais-antienvelhecimento/7
Autor: Dr. Frederico Lobo - CRM-GO 13192

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